♪ Já imaginou dançar quadrilha em festa de São João ao som da música Fé cega, faca amolada (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974)? Já pensou em ouvir a canção Encontros e despedidas (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981) com um toque de guarânia típica da região centro-oeste do Brasil? Já cogitou dançar no passo baiano do afoxé ao ouvir Caxangá (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977) em ritmo de ijexá?
O pianista, compositor e arranjador carioca Antonio Adolfo arquitetou tudo isso e pôs em prática essas ousadias estilísticas ao abordar o cancioneiro de Milton Nascimento no álbum BruMa.
Programado para chegar ao mercado brasileiro a partir de segunda-feira, 22 de junho, o disco BruMa (mist) Celebrating Milton Nascimento reapresenta a obra do compositor sob o prisma jazzístico de Adolfo.
Editado em escala mundial pelo selo do pianista, AAM Music, com distribuição nacional via Rob Digital, o disco em tributo a obra de Milton é projeto antigo de Adolfo, que sempre detectou nas sólidas e singulares harmonias da música do compositor uma ponte para recriações.
“As composições de Milton quebraram padrões harmônicos e rítmicos, com o modalismo delas, de maneira espontânea e intuitiva. O que fiz foi adicionar a esse repertório meu vocabulário de jazz brasileiro. Após trabalhar em trinta músicas, para escolher nove, concluí que Milton é o compositor mais moderno e profundo do Brasil. Não por acaso, tantos grandes músicos se apaixonam por sua música”, ressalta Antonio Adolfo.
Adolfo é um desses apaixonados admiradores de músicas como Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972), canção transportada no álbum BruMa para o porto da bossa nova. Já Nada será como antes (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1971) virou o que o pianista caracteriza como “shuffle jazzístico”.
Cabe lembrar que o jazz sempre esteve entranhado no cancioneiro de Milton Nascimento desde os anos 1960, a ponto de o segundo álbum solo do cantor, Courage (1968), já ter sido feito para os Estados Unidos. Em 1974, essa veia jazzística ficou mais aflorada no álbum Native dancer, dividido por Milton com o saxofonista norte-americano Wayne Shorter, e foi sendo cada vez mais evidenciada na obra solo do artista a partir do álbum Encontros e despedidas (1985).
Foi nessa vasta obra que Adolfo mergulhou durante seis meses para selecionar o repertório do álbum BruMa. Três Pontas (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1967), Outubro (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967), Canção do sal (Milton Nascimento, 1965) – lançada com a voz do autor e o toque do Aécio Flávio Sexteto no desconhecido álbum Música brasileira em expansão (1965) – e Tristesse (Milton Nascimento e Telo Borges, 1999) figuram nesse repertório, completando as nove faixas do disco BruMa.
Com título criado com a junção das iniciais de Brumadinho (MG) e Mariana (MG), cidades mineiras devastadas por desastres ambientais, o álbum BruMa celebra a admiração mútua entre Adolfo e Milton, compositor de origem carioca, mas alma musical mineira.
Os artistas se conheceram em 1968, ano em que Adolfo – então integrante do Trio 3D – participou de show feito por Milton Nascimento com Marcos Valle no embalo da gravação pelos cantores da toada Viola enluarada (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1968).
No disco BruMa, gravado no Rio de Janeiro (RJ), cidade natal de Adolfo, o pianista aborda a obra de Milton Nascimento com os toques dos músicos Lula Galvão (guitarra), Léo Amuedo (guitarra), Jorge Helder (baixo) André Vasconcellos (baixo), Rafael Barata (bateria e percussão), Dadá Costa (percussão), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Marcelo Martins (flauta e sax tenor), Danilo Sinna (sax alto) e Rafael Rocha (trombone) e Cláudio Spiewak (guitarra, violão e percussão).
Antonio Adolfo apresenta o álbum BruMa (mist) Celebrating Milton Nascimento três meses após ter lançado disco com Leila Pinheiro, Vamos partir pro mundo, com repertório inteiramente dedicado à parceria que o pianista manteve de 1967 a 1970 com o compositor Tibério Gaspar (1943 – 2017).