Outro Tom, by Christovam Chevalier – New Mag

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Antonio Adolfo tem parte de sua obra reavivada por Carol Saboya em álbum emotivo e emocionante

Na virada entre os anos 1970 e os 80, Carol Saboya teve o privilégio de, ainda menina, acompanhar o pai, Antonio Adolfo, em shows e gravações. O compositor, já consagrado pelas pérolas compostas com Tibério Gaspar (1943-2017), dava novos rumos à carreira de arranjador e produtor. Carol não imaginava que seriam plantadas nela duas sementes. A primeira culminou no interesse pela música, manifestado há tempos. Já a segunda frutifica este ano, no álbum “Outro Tom”. Com o projeto, a cantora coroa seus 25 anos de carreira e os 60 de estrada do pai no ano em que ele completou 77 anos.

E Carol quis mostrar outros lados desse pai que é referência para muitos nomes da música. Tanto que nove das dez faixas escolhidas têm melodias e letras criadas unicamente por Antonio Adolfo num período que vai de 1972 a 1980. Talvez por isso, a sonoridade e a estética dos anos 1970 estejam presentes no álbum, cuja produção do baixista Guto Wirtti.

– Quis manter um pouco da estética dos anos 1970 tanto que só gravamos com piano elétrico, num clima fender Rhodes, com os timbres das guitarras escolhidos a dedo… Então, ele transita muito entre os anos 70 e 80, justo a época dos discos nos quais busquei o repertório – explica Carol, que deu ao projeto ares contemporâneos: – O meu jeito de cantar já o traz aos dias atuais. Essa junção entre aqueles anos e os dias de hoje era algo que eu queria.

Os elos com a contemporaneidade não estão somente no timbre da artista. Eles manifestam-se também nas vozes de Amanda e Joana, filhas da cantora. Como os frutos não caem longe do pé, as jovens acompanham a vida artística da mãe desde pequenas e, por isso, Carol estabeleceu essa ponte entre as gerações do seu pai e a de suas filhas, netas do homenageado. E o jeito foi gravar as vozes nos EUA, onde Amanda estuda música, como conta Carol:

– Já iria mesmo visitar a Amanda em Boston, e a Jojo foi comigo. Gravamos as vozes num estúdio na própria faculdade onde a Amanda estuda. Definimos os arranjos vocais numa sala de ensaio, minutos antes de gravarmos. Costumávamos cantar juntas no carro, quando elas eram crianças, e foi muito emocionante gravar com elas.

Emocionado também ficou o homenageado, a quem Carol foi mostrando as faixas aos poucos, na medida em que eram gravadas. O plano original era o de ele não participar do projeto, mas uma sugestão de Wirtti demoveu a cantora, levando Antonio Adolfo a participar simplesmente de três das faixas.

– Não iria, a princípio, chamar meu pai para tocar ou participar, mas, após mostrar uma e outra coisa para ele, o próprio Guto sugeriu de ele fazer o arranjo para uma das músicas. Mas as coisas mudaram e acabou que ele participa de três faixas, uma delas feita para mim (“Carola”, gravada juntamente de “Acalanto”) – explica a cantora, revelando a reação do pai depois de concluída a homenagem: – Ele vibrava a cada vez que mostrava algo. Ao fim, ficou feito criança, com os olhos brilhando.

O brilho que, lá nos anos 1970, acometeu os olhos da menina que, hoje, legitima através do canto o que guardou no coração.