BruMa: Celebrating Milton Nascimento, by Luis Loureiro e Marcelo Sena – Agencia Primaz – Brasil

O cidadão carioca registrado como Antonio Adolfo Maurity Saboia, nascido em fevereiro de 1947, começou a estudar música na infância e, já aos 16 anos, iniciou sua vida artística acompanhando nomes de destaque da música brasileira, simplificando seu nome para Antonio Adolfo.

Pianista, compôs músicas de sucesso no final dos anos 1960 que foram incluídas em trilhas de novelas, filmes e peças teatrais. Uma de suas canções, BR-3,  foi vencedora da fase nacional do 5º FIC (Festival Internacional da Canção) em 1970.

Mas sua música de maior sucesso foi Sá Marina, em parceria com Tibério Gaspar, gravada por Wilson Simonal e lançada em 1968.

Dividindo residência entre o Brasil e os Estados Unidos, desde 1970, Antonio Adolfo foi pioneiro na gravação e distribuição independente de discos e teve um de seus álbuns indicados ao Grammy, em 2018, como melhor álbum de Latin Jazz.

Há pouco mais de um mês lançou o CD BruMa (Mist): Celebrating Milton Nascimento. Confira a seguir alguns trechos da entrevista exclusiva concedida por Antônio Adolfo à Agência Primaz e acesse os links de vídeo e áudio da íntegra da Entrevista Primaz desta semana.

Meu início na música foi pelo violino. Minha mãe era violinista da Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. E tive uma infância normal como qualquer outro: jogava bola na rua, ia para o colégio e, quando dava uma brecha eu gostava de ir pro piano, tirando músicas “de ouvido”

O Beco das Garrafas foi uma espécie de escola pra mim. Ali eu conheci e convivia com os principais músicos daquela época. Pra você ter uma ideia, o Jorge Ben, antes de ser Jorge Benjor, se lançou ali. Simonal também.

Sá Marina foi composta como uma toada. Como eu tinha tocado com Simonal em vários shows e ele estava lançando um estilo à Chris Montez, veio a ideia de apresentar a música pra ele. Mostramos a ele às 11 da manhã e à noite ele já cantou Sá Marina no programa que ele tinha na TV Record.

BR-3 na verdade era a estrada Rio-Belo Horizonte e ao mesmo tempo, na letra, era a estrada da vida. Eu fiz um arranjo, o Bruno Ferreira fez aquela orquestração maravilhosa e eu toquei piano. E aí em um momento a gente passa para um soul music pra valorizar a dança do Tony Tornado. A apresentação teve um impacto danado. Foi um sucesso.

Depois do festival a gente foi um pouco perseguido pela Censura. Começaram a dizer que BR-3 era veia. Uma idiotice total! A veia que o cara usava pra botar o ácido, sei lá o quê. Mas não tinha nada disso não.

Há 43 anos eu faço produção independente. Mas a partir de 2010 eu tenho feito discos praticamente todo ano, sempre lançando nos Estados Unidos, onde eu passo a maior parte do tempo, mas nunca perdi o contato com o Brasil. Aqui eu sinto que sou recebido com muito carinho. Mas o novo CD já está em segundo lugar da parada de jazz nos Estados Unidos.

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Há muito tempo que eu venho namorando a música do Milton Nascimento. Sempre adorei as músicas que ele fez. Já estava na minha fila musical. Quando pensei: “qual vai ser o próximo?”, a música do Milton estava ali esperando um momento para entrar nos meus discos.

O critério para a escolha das músicas foi o que eu sentia das que se adaptariam mais ao meu estilo e a formação que eu tô gravando ultimamente, com sopros também, e que fossem músicas que dessem para improvisar em cima delas. Isso não quer dizer que sejam as músicas mais bonitas do Milton. Tem músicas dele que me tocam a beça mas que não se enquadram nesse estilo. Por exemplo Clube da Esquina nº 2 e Maria, Maria.

Eu percebi que eu sou muito brasileiro. Eu posso estar viajando, mas cada vez eu sou mais brasileiro. Eu senti uma quadrilha em Fé Cega, Faca Amolada, em que o tempo fica no contratempo. Tem também Canção do Sal, que é o único samba do disco. Três Pontas eu fiz tipo aquele trenzinho que é bem diferente do estilo que ele gravou. Em Caxangá eu senti o ijexá baiano. Encontros e Despedidas eu fiquei apaixonado desde o início e eu imaginei ali uma guarânia do centro-oeste.

Neste disco o nome veio de forma muito natural. De cara, me veio à cabeça a imagem das montanhas de Minas. Porque a música do Milton é mineira. Aí me veio o recente desastre que teve em Brumadinho e aí em Mariana e isso me tocou muito como tocou a todos os brasileiros. Aí comecei, Bru…, Brumadinh.., Mar.. Marian… Aí veio o nome Bruma, que é Brumadinho e Mariana, ao mesmo tempo, e que também é uma palavra linda, que quer dizer névoa. É a Bruma sobre as montanhas. Os homenageados do disco são o Milton Nascimento e o povo de Mariana e Brumadinho.

A realidade vai mudar muito e tá na hora da tecnologia avançar para ajudar essa mudança. A internet, por exemplo, tem que ficar bem mais rápida para você poder fazer alguma coisa ao vivo sem ter aquele atraso entre os músicos. O que está acontecendo ainda é uma forma muito precária.